sexta-feira, 4 de julho de 2008

Quotidiano angolano

Receamos de tal forma os tempos vindouros, que preferimos pensar que o melhor é deixar as coisas, tal como elas estão. Já nem pomos em causa o esperar a “poeira baixar”, mas sim, deixar como está. Acordamos todos os dias e “vemos” pó, com esperança lavamos a cara, e ainda assim o pó permanece. O sair de casa pela manhã, é-nos cada vez mais difícil, por causa do trânsito que se avizinha. Os crimes outrora praticados no calor da noite, são agora “abandalhados” à luz do dia. Os poucos jovens, com sorte, com possibilidades de escolher um emprego após conclusão de licenciatura, têm somente duas opções: “ou para o banco vão trabalhar…ou no banco trabalham”. E mesmo assim...

A verdade é que a enchente de bancos que invadiu o país, trouxe incalculáveis benefícios para todos nós, desde económicos, na atribuição e incentivo do investimento particular, à sociais, na diminuição razoável da taxa de desemprego (Nzatuzola, João 2008). Contudo, e também porque da mudança não vem só a bonança, já nos podem assaltar “com a mão na massa” graças a falta de segurança, que apresentam de um modo geral, todos os Muiticaixas. A caminho do trabalho, encontramos de tudo um pouco. “Crianças a caminho da escola, outras a pedir esmola, jovens a vender, para ter o que comer”, e se vivemos nos subúrbios da cidade de Luanda, as 8 da manhã quando conseguimos alcançar finalmente a nossa metrópole, após duas ou três horas de trânsito, encontramos os nossos postos de combustível mais do que cheios…inundados de carros. Esse é, o “mata-bicho” da maioria da população, que contrasta com a insatisfação no percurso do dia. E ainda assim, não cremos na mudança.

Quando a conversa é política, só queremos que o “status quo” se mantenha. A justificação!? Pior não fica, dizem uns, melhor impossível, dizem outros e assim vai-se ramificando uma sociedade. Sempre dentro do mesmo. Falar de futebol é falar sobretudo do campeonato português. Não admira, a recente investida de alguns treinadores provenientes de Portugal para o nosso país. Aliás, numa corrida às nossas lojas e até mesmo percorrendo os olhos pelas ruas, atento, aos nossos comerciantes ambulantes, pude constatar, não há muito, que não estão à venda camisolas de futebol das equipas nacionais. Eis o valor do nosso futebol.

Estamos privados de luxos mínimos, tais como, usar o telemóvel que recebemos no natal, pois os delinquentes já nem de dia respeitam os códigos mínimos de conduta, se é que alguma vez tal realidade fez parte do seu quotidiano. Roupas claras, é para esquecer, uma vez que a poeira, que de madrugada é varrida e de manhã encontramos no canto da estrada (como se fosse a solução mais razoável), com o famoso “arranca pára”, tratará de tornar o claro, escuro, principalmente para quem anda a pé. Para aumentar o desespero, ainda tem a má condução dos candongueiros, muitos deles, sem sequer terem a taxa de circulação regularizada.

Falar em seguros é o mesmo que nada. Os únicos seguros que funcionam em Angola são: o desacato á autoridade para uns e a “gasosa” para outros.

Como escapar ao trânsito? A solução passa um pouco por conduzir de madrugada, sobretudo para os infortunados, que não têm possibilidades para adquirir casas na cidade pois as mesmas rondam preços “irrisórios”. Sim, porque em plena cidade de Luanda, onde a luxúria há muito ultrapassou a extravagância, temos listas de espera desmedidas para a aquisição de imóveis, a preços a rondar os milhões de dólares. Das duas, uma: ou aumentou o poder de compra, ou aumentou a capacidade de contrair dívidas. Seja o que for, como bem disse há algum tempo atrás, o homem que passou de herói à vilão: “estamos a viver mesmo assim” (Dog Murras).

Também as perigosidades que apresentam os camionistas nocturnos são prova disso, adjudicando com a falta de iluminação das nossas estradas. Inconformados com a realidade, nós não estamos, certamente. Tentamos arranjar solução para tudo, e esse tem sido o nosso dia-a-dia.

E Quando chove?!”Maka grande”, se vivemos em casas, vivemos em casas alagadas, se vivemos em prédios o ideal é viver no 2º andar porque se for no 1º, encharcados ficamos, devido às inundações, e se for no 3º, temos de usar as escadas porque o elevador, esse não funciona há muito.

A outra parte da sociedade, que não vive essas emoções, vive outras, seguramente. Uma coisa é certa, do trânsito, tirando “os trabalhadores assíduos” que ligam os intermitentes, fazendo barulho com as sirenes e se possível, acompanhados de batedores, ninguém escapa. Só nos espantamos quando já lá vai longe a viatura, e afinal, nem era a ambulância nem ninguém estava a morrer…nem eram os bombeiros, nem havia casas a arder. Por todas essas razões e naturalmente mais algumas, que são constantemente censuradas pela nossa mente, e não só, não é de admirar, as recentes criticas, que temos recebido a nível internacional.

Conclusão, entre o trânsito, e os constantes roubos entre ricos e pobres, deve permanecer em nós a urgência de mudança. Braços cruzados, meus amigos, é sinónimo de preguiça, não de inconformismo.


Atenciosamente...

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